Quem é Deus?
Um Espírito em três Pessoas; Criador e Soberano Senhor de todas as coisas.
Que quereis dizer quando dizeis que Deus é espírito?
Quero dizer que não tem corpo como nós, que está, absolutamente, isento de matéria e de qualquer elemento estranho ao seu ser (III, 14).
Que conseqüências se derivam destes princípios?
Resulta que Deus é, no sentido mais absoluto e transcendental, o Ser por essência e as
restantes coisas são seres particulares, são tais seres e não o Ser. (III, 4).
Deus é perfeito?
Sim, Senhor; porque nada lhe falta (VII, 1).
É bom?
É a própria bondade, como princípio e fim de todos os amores. (VI).
É infinito?
Sim, Senhor; porque coisa alguma pode limitá-lo.
Está em toda a parte?
Sim, porque tudo quanto existe, Nele e por Ele existe. (VII).
É imutável?
Sim, porque nada pode adquirir. (IX).
É Eterno?
Sim, porque Nele não há sucessão (X).
Quantos deuses há?
Um só (XI).
Existem em Deus os referidos atributos?
Sim, Senhor, e se não os possuísse não seria o Ser por essência.
Podereis demonstrá-lo?
Sim, Senhor; Deus não seria o ser por essência, se não fosse o que existe per se, ou como dissemos, por necessidade de sua natureza. O que existe per se concentra em si mesmo todos os modos do ser; é, portanto perfeito e, sendo perfeito, necessariamente há de ser bom. É, além disso, infinito, condição indispensável para que nenhum ser tenha ação sobre Ele e o limite, e se é infinito possui o dom da ubiqüidade. É imutável, porque, se mudasse, havia de ser em busca de uma perfeição que lhe faltasse. Sendo imutável, é eterno, porque o tempo é sucessão e toda sucessão revela mudança. Sendo perfeito em grau infinito, não pode haver mais do que um; se houvesse dois seres infinitamente perfeitos, nada teria um que o outro não possuísse, não haveria meios de distingui-los e seriam, portanto um (III-XI).
Podemos ver a Deus enquanto vivemos neste mundo?
Não Senhor; não o consente o nosso corpo mortal (XI, 11).
Poderemos vê-lo no céu?
Sim, Senhor; com os olhos da alma glorificada (XII, 1-10).
De quantos modos podemos conhecer a Deus neste mundo?
De dois: por meio da fé e da razão (XII-12-13).
Que coisa é conhecer a Deus por meio da razão?
É conhecê-Lo, mediante as criaturas, obras de suas mãos (XII, 12).
E conhecê-Lo pela Fé?
É conhecê-Lo, sabendo o que Ele é, pelo que nos revelou de Si mesmo (XII, 13).
Qual destes dois modos de conhecimento é mais perfeito?
Indubitavelmente, o da fé, dom sobrenatural que nos mostra Deus com uma claridade como jamais o pode conjeturar a razão humana; e ainda que, devido à imperfeição de nosso entendimento percebemos esta claridade, manchada de sombras e obscuridades impenetráveis, é todavia dela, como aurora do dia feliz da visão perfeita, que se constituirá a nossa Bem-aventurança no céu (XII, 15).
As palavras e proposições que usamos para falar de Deus expressam alguma coisa de positivo, determinado e real?
Sim, Senhor; porque, se bem que tenham sido inventadas para designar as perfeições das criaturas, podem empregar-se para manifestar o que em Deus corresponde a essas perfeições (XIII, 1-4).
Têm o mesmo sentido aplicadas a Deus e às criaturas?
Sim, Senhor; porém, com alcance diverso: quer dizer que, aplicadas às criaturas, manifestam plenamente a natureza e as perfeições que expressam; porém, usadas para designar perfeições divinas, se bem que em Deus existe realmente quanto de positivo encerra o seu significado, não alcançam expressá-lo de modo supereminente como está em Deus (XIII, 1- 4).
Por conseguinte, Deus é inefável, qualquer que seja a nossa linguagem e a sublimidade das expressões que usemos para falar Dele?
É inefável: apesar disso, não pode ter o homem ocupação mais digna e proveitosa do que a de falar de Deus e dos seus atributos, apesar do confuso e impreciso de nossa linguagem, durante esta vida mortal (XIII, 6, 12).