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“Há um modo de compreender o que se vê, e um modo de responder ao que se vê, que, por alguma razão, é ilusório”, é com este pensamento que Roger Scruton introduz o capítulo 05 do livro Pensadores da Nova Esquerda, onde discorre sobre a obra de Ronald David Laing. Scruton começa lembrando que “foi à linguagem de Sartre que R. D. Laing tomou emprestada e à qual deu renovada expressão, apresentando, como resultado, uma descrição vívida e convincente da fenomenologia da doença mental. Laing sugeriu como uma das origens das "esquizofrenia" (tomando só por um momento uma classificação que ele rejeitaria) precisamente este sentimento de "insegurança ontológica" que advém de ver-se não como uma pessoa (um "para-si" ), mas como um organismo, mecanismo ou coisa (um "em si")”, - (Pág. 75 - 76).
Roger Scruton ressalta que “a impressionante consequência deste diagnóstico foi à rejeição (ou melhor, a subversão) dos modos aceitos de tratar a doença mental”. Scruton continua explicando que “o paciente nos últimos escritos de Laing, é apresentado como um inocente, vítima de um longo processo de despersonalização na sua vida. Quando a família o reduz ao objeto que ela requer que ele seja, ele então, é entregue a clínica. Assim, o processo pode continuar em um ambiente controlado e adoptado perfeitamente a destruição sistemática do self”. Em outras palavras, o que Laing faz com sua filosofia, é atribuir à família, a inteira responsabilidade no caso em que uma pessoa sofra de problema mental, - (Pág. 77).
Conforme Scruton “esta crítica pode ser mais bem entendida nos trabalhos do Coletivo Terapêutico Radical, organização que produziu o que pode ser descrito como o mais ressoante ataque jamais feito às consequências sociais do capitalismo ocidental. Entre suas convicções paranoides, a seguinte não é menos notável: "Muitos terapeutas são homens, muitos pacientes são mulheres. Terapia assim reforça e exemplifica as práticas sexistas desta sociedade [...]”, afirma o Coletivo”. A este respeito explica Scruton “a postura do Coletivo Terapêutico Radical exemplifica uma visão à qual o próprio Laing adere: - a visão de que o doente mental é essencialmente inocente, e que alguém, em algum lugar, é culpado por seu sofrimento (...)”. Em outras palavras, “uma carga de “criminalidade” encoberta está envolvida, e é em relação a essa “criminalidade” encoberta que a vítima da doença mental é profundamente inocente, e seus acusadores, profundamente culpados”, - (Pág. 78 - 79).
De acordo com Roger Scruton “a ideia de que uma pessoa de perspectiva moral perfeitamente “normal” e conformista poderia achar-se incapaz para viver, que ela poderia pedir por ajuda e buscar ser hospitalizada (o mais das vezes, diante da oposição das autoridades do hospital) simplesmente não tem lugar nesta teia de fantasias. A visão paranoide do hospital como uma prisão, e do esquizofrênico como um bode expiatório, alimenta-se de evidência muito restrita para ser significativa”. “Por pressupor sempre que tal descrição é possível, e que é o único meio de acesso à verdadeira posição de seu paciente, o psiquiatra lainguiano assume desde o início a conclusão que ele finge estabelecer, a conclusão que a psicose está sempre suscetível à reação pessoal”, afirma Scruton - (Pág. 82).
Por fim, Scruton recorda que “há um conceito que Freud sabiamente situou no centro da prática e do pensamento psicanalítico, e que a psiquiatria lainguiana ignorou ao custo de sua coerência: o conceito de reconciliação”. A este respeito Scruton acrescenta: “não há lugar para a ideia de reconciliação, já que não reconhece validade em nada fora do indivíduo com o qual ele possa ser reconciliado”. Na realidade diz Scruton “reconhecer uma validade "objetiva", "pública", "estabelecida" ou "externa" seria abandonar a imagem da inocência essencial do mentalmente doente”. E conclui sua análise com a seguinte afirmação: “a visão lainguiana está tão distante de ser verdadeiramente antiburguesa quanto qualquer outra teoria que depende de modelos radicais para seu apelo: sua terminologia (existencial, dialética, libertação, realização), suas doutrinas fáceis e, sobretudo, sua sentimentalização inescrupulosa da experiência individual, adaptam-se perfeitamente ao mercado de ideias baratas”, - (Pág. 85 - 86).
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Artigo5: CAPÍTULO IV – Pensadores da Nova Esquerda – Michael Foucault
Daniel Jorge
Enviado por Daniel Jorge em 12/07/2018
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